À ESPERA DE SER MINISTRO?

No dia 13 de Novembro de 2008 escrevi o artigo «”O País” imparcial e rigoroso à moda, é claro, de quem manda”». As minhas críticas levaram alguns anos a confirmar-se. A confirmação só chegou em 2017. Eis o conteúdo desse texto.

Por Orlando Castro

A «banca de jornais angolana vai passar a contar com um novo título, O País, que será “imparcial e rigoroso” no tratamento das notícias, prometeu esta quinta-feira no lançamento, em Luanda, o respectivo director, Luís Fernando.

“Imparcial e rigoroso”? Não está mal. Aliás, quem melhor que o Luís Fernando, um jornalista que levava ao fanatismo o seu amor (ou seria outra coisa?) pelo MPLA, para dirigir um semanário “imparcial e rigoroso”? Sim, quem?

Numa cerimónia curta, realizada em Talatona, no município de Samba, Luanda, e em que esteve presente (como não poderia deixar de ser) o vice-ministro da Comunicação Social, Miguel Wadjimbi, Luís Fernando prometeu “imparcialidade e rigor no tratamento da notícia”.

Aliás, a “imparcialidade e rigor” são a coluna vertebral do manual do MPLA, o único admissível num país (eu sei que há outros) que continua a confundir as esquinas da vida com a vida nas esquinas.

Luís Fernando, que foi anteriormente director do diário estatal, órgão oficial do MPLA, Jornal de Angola, destacou ainda o empenho da redacção, que integra jornalistas portugueses e angolanos, alguns destes recrutados noutros títulos da imprensa angolana.

Empenho é, aliás, coisa que não falta a todos aqueles que em Angola, como noutros países, precisam de se descalçar para contarem até 12. Empenho, subserviência e clientelismo que, mais uma vez, vai prostituir o Jornalismo e amamentar todos aqueles parasitas que, em vez de darem voz a quem a não tem (isso é que é Jornalismo), vão ampliar os latidos dos donos, dos chefes e similares.

“O semanário O País vai ser um jornal de referência na imprensa angolana”, garantiu Luís Fernando. Cá estamos, sentados, para ver se, mais uma vez, referência não vai rimar com subserviência… e muitos dólares.»

A minha referência ao fanatismo de Luís Fernando pelo MPLA foi na altura, Novembro de 2008, muito criticada. A minha razão levou alguns anos a confirmar-se. Chegou em 2017 quanto ele foi nomeado Secretário para os Assuntos de Comunicação Institucional e Imprensa do Presidente da República.

Isso não impede que reconheça a perspicácia do general João Lourenço na escolha do Luís Fernando. Em matéria de formação académica, entre 1987 e 1992, fez a Licenciatura em Jornalismo pela Universidade de Havana, Cuba. Em 2013/2017 foi Administrador Executivo do Grupo Media Nova, responsável pelo pelouro Editorial, Marketing e Publicidade – Média Nova; 2008/2013 – Director do Jornal “O País” do Grupo Media Nova.

Antes, 1994/2007 – Director-Geral do Jornal de Angola da Edições Novembro; 1993/1994 – Director de Informação da Rádio Nacional de Angola (RNA); 1992/1993 – Re-writer, Subchefe de Redacção da RNA; 1986/1992 – Correspondente da RNA e do Jornal de Angola em Cuba; 1981/1986 – Subchefe de Redacção da RNA – Estúdios Centrais Luanda; 1978/1981 – Redactor-Repórter e Chefe de Redacção da Emissora Regional do Uíge da RNA.

Alem disso, em 2011 venceu o Prémio Maboque de Jornalismo; 2012/2013 – Presidente do Júri do Prémio Nacional de Jornalismo promovido pelo Ministério da Comunicação Social, articulista, repórter e cronista do Jornal Desportivo Militar (JDM); Jornal Português “O Diário” (extinto); Deutsche Welle (Voz da Alemanha) – correspondente em Angola.

Foi ainda colaborador-fundador da emissora Luanda Antena Comercial (LAC) – criador do espaço Hora Informativa; Fundador do programa Manhã Informativa – Rádio Nacional de Angola.

Como escritor tem várias obras literárias conhecidas, algumas delas consideradas pelo Departamento de Informação e Propaganda do MPLA como merecedoras do Prémio Nobel da Literatura: Noventa Palavras; A Saúde do Morto; Antes do Quarto; Clandestinos no Paraíso; A Cidade e as Duas Órfãs Malditas; João Kyomba em Nova lorque; Letras na Brasa; Silêncio na Aldeia; Um Ano de Vida; Dois Anos de Vida; Três Anos de Vida; Angola Memórias da Transição – De José Eduardo dos Santos a João Lourenço, Volume I e II e o emblemático Notícias do Palácio – O Primeiro Ano de Mandato do Presidente João Lourenço.

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